Sínodo dos Bispos, 2018. Um Sínodo que nos oferece mais do que conteúdo


Pe. Elizeu da Conceição

Sínodo dos Bispos, 2018
Um Sínodo que nos oferece mais do que conteúdo
Pe. Elizeu da Conceição

No dia 03 de outubro do corrente ano iniciou-se a XV Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, em Roma, com tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”. Este grande evento, que transcorreu até o dia 28 de outubro, foi uma grande novidade para a Igreja e para a juventude, pois o Papa Francisco não reteve para si uma reflexão sobre os jovens, mas abriu um espaço especial na Igreja, a partir da preparação, da convocação e da celebração deste Sínodo, para que todos refletissem sobre o tema. Desse modo, envolveu a Igreja e a sociedade em um processo reflexivo. 
O Cardeal Lorenzo Baldessari, secretário geral do Sínodo,  afirma que este “é um evento de central importância para o Povo de Deus, Pastores e rebanho, e para a sociedade inteira, em razão do tema, os jovens, todos os jovens da terra, em vista da sempre sonhada civilização do amor.”[1]Certamente que este evento ganha uma importância ainda maior pelo processo de preparação que envolveu a juventude. Assim como afirmou o Papa Francisco: “(a Igreja) … quer colocar-se em escuta da voz, da sensibilidade, da fé e também das dúvidas e das críticas dos jovens.”[2]

Novidade na participação do Sínodo
Tomaram parte desta assembleia sinodal os superiores das Igrejas Católicas Orientais sui iuris;os Bispos eleitos dos Conselhos Hierárquicos das Igrejas Orientais Católicas; os Bispos eleitos das Conferências Episcopais; religiosos eleitos da União dos Superiores Gerais; alguns superiores dos Dicastérios da Cúria Romana; e, um grupo nominado pelo Papa Francisco. Ao todo foram 266 Padres Sinodais. Entre esses estão 50 Cardeais, 6 Patriarcas, 1 Arcebispo Maior, 44 Arcebispos, 101 Bispos residenciais, 37 auxiliares, 7 Vigários Apostólicos e 1 Bispo Prelado, 10 religiosos (Superiores Gerais) e 10 membros que não receberam a ordem episcopal entre presbíteros e religiosos. 
Entre os outros participantes estavam 23 especialistas, escolhidos pelas suas competências para contribuir com os trabalhos sinodais; 49 Ouvintes, provenientes de diversos países, desses, 34 eram jovens entre 18 e 29 anos. 
Como, acenado no início, essa Assembleia se enriqueceu a partir do processo indicado pelo Santo Padre. Já em outubro de 2016 ele apresentava o objetivo deste Sínodo: “Acompanhar os jovens nos seus caminhos existenciais em direção a maturidade para que, através de um processo de discernimento, possam descobrir o seu projeto de vida e realizá-lo com alegria, abrindo-se ao encontro com Deus e com os homens e participando ativamente a edificação da Igreja e da sociedade.”[3]De fato, o processo de preparação dos trabalhos sinodais foi sendo amadurecido com a integração e participação de tantas vozes juvenis. A possibilidade de ter direito à voz ativa nesta Assembleia, contribuiu muito para um novo modelo de reflexão dentro do Sínodo. 

Reconhecer, Interpretar e Escolher. O método utilizado 
Outro detalhe fundamental a ser destacado é o método utilizado desde a preparação até a celebração deste grande evento. Reconhecer, Interpretar e Escolher, foram os verbos orientadores dos trabalhos sinodais. Reconhecer, expressa a Igreja em escuta da realidade; Interpretarcorresponde à fé e o discernimento vocacional; Escolher, corresponde aos caminhos de conversão pastoral e missionária. Na preparação do Sínodo, uma equipe foi formada para ouvir os jovens. Com uma série de perguntas enviada a todas as Conferências episcopais e disponibilizada via Internet, os jovens puderam responder livremente, expressando suas reais necessidades, sonhos, dúvidas e críticas. O Papa Francisco se encontrou com eles e ouviu suas diversas sugestões. Foi o momento de reconhecimento de toda riqueza, diversidade e fragilidade juvenil. Durante a Celebração do Sínodo foi possível, pela primeira vez, a participação dos jovens através o uso da palavra. Dessa forma não foram apenas ouvintes, mas protagonistas neste grande momento da Igreja. Junto aos especialistas e aos Padres Sinodais, procuraram interpretaro momento atual, lendo os sinais dos tempos para terem clareza nas escolhasfeitas por toda Igreja. 
Os trabalhos sinodais se apoiaram no Instrumentum Laboris. Este documento que foi elaborado a partirde milhares de páginas com reflexões, pedidos e sugestões provindas de todo mundo. As contribuições de jovens, padres e bispos ofereceram um quadro de referimento aos Padres Sinodais. Das reflexões dos grupos e das plenárias, foi entregue ao Santo Padre um documento conclusivo. O Papa Francisco poderá escrever uma Exortação Apostólica Pós-Sinodal a partir deste material. 

A novidade do Sínodo
Surge uma questão importante: do processo e da celebração do Sínodo, o que podemos colher de precioso para nossa realidade atual? Qual é a novidade que ainda não tínhamos claro e que esta Assembleia nos proporciona?
Já no seu discurso inicial, o Papa Francisco afirmava que o Sínodo é um exercício de diálogo e que “o primeiro fruto deste diálogo é cada um abrir-se à novidade, estar pronto a mudar a sua opinião face àquilo que ouviu dos outros.[4]Esse discurso mostra a abertura da Igreja à escuta sincera e à disposição de mudança, principalmente na sua relação pastoral e educativa com os jovens. 
Da disponibilidade de escuta por parte da Igreja, abriu-se a uma relação bonita de diálogo durante o Sínodo. As possibilidades que se abriram a partir deste grande momento na Igreja já fez pairar um ar de compromisso com a nova geração. Pois muito mais do que oferecer um conteúdo para falar com os jovens, para dar formações e catequeses, o Sínodo nos ofereceu um processo riquíssimo de discernimento vocacional – entendo aqui o sentido amplo desta terminologia. O processo e as reflexões nos ensinam muito, especialmente a reconhecer a realidade juvenil como realidade teológica, ou seja, a partir deles e das suas manifestações, podemos haver uma experiência com o Divino. O segundo ponto desta novidade é saber discernir ou interpretar o mundo do jovem à luz do Evangelho e da realidade atual, sem pré-juízos. Mas interpretar não para eles e sim com eles, ou seja, viver a sinodalidade. O terceiro ponto da novidade está nas escolhas pastorais, políticas e educativas que favorecem a vida dos jovens, a partir dos últimos, dos fragilizados, dando condições a todos os jovens de viverem em plenitude a sua vocação. 


O documento final
No dia 27 de outubro foi feita a votação e a aprovação de um documento final. A narração dos discípulos de Emaús, do Evangelho de Lucas, se tornou o fio condutor deste e é indicado como o fio que unirá os diversos apostolados eclesiais. 
Tomando em mãos este material, vemos a riqueza na diversidade de temas tratados. A abrangência temática oferece luz à formação integral, pois na primeira parte do documento é possível ver o “reconhecimento” da realidade juvenil com suas riquezas e fragilidades e ao mesmo o reconhecimento das atitudes da Igreja, principalmente na sua missão de escuta e de acompanhamento pastoral e educativo. O documento apresenta três pontos cruciais a serem considerados no acompanhamento juvenil: o ambiente digital como uma rede de oportunidade, mas também de perigos; os imigrantes como paradigma de nosso tempo; e o reconhecimento e pedido de perdão diante dos abusos. 
A segunda parte toca a dimensão da beleza e do dom da juventude, assim como do mistério vocacional dentro da variedade de ministérios. O documento aborda também a missão de acompanhar, que é um ministério de suma importância, “acompanhar para fazer escolhas válidas, estáveis e bem fundada”,[5]para isso é necessário formar acompanhantes “equilibrados, de escuta, de fé e de oração.”[6]
A terceira parte do documento aborda a resposta vocacional, que conduz o cristão à vivência missionária. A sinodalidade missionária da Igreja e a presença no quotidiano da vida juvenil com a proposta de formação integral, são respostas processuais a serem construídas nos diversos aerópagos juvenis. A sinodalidade é destacada pelo seu valor participativo: “Uma Igreja sinodal é uma Igreja de escuta, sabendo que escutar é mais do que ouvir. É uma escuta recíproca no qual todos tem alguma coisa a aprender. Povo fiel, Colégio Episcopal, Bispo de Roma: um em escuta dos outros; e todos em escuta do Espírito Santo, o ‘Espírito da verdade’ (Jo 14, 17), para conhecer o que Ele ‘diz à Igreja’ (Ap 2, 7).”[7]
O documento conclui com um chamado a santidade. Afirmando que a “santidade é o rosto mais belo da Igreja” e que “através da santidade dos jovens a Igreja pode renovar o seu ardor espiritual e o seu vigor apostólico.[8]E como afirma o Papa: “Mais do que o documento, é importante que se difunda um modo de ser e trabalhar juntos, jovens e idosos, na escuta e no discernimento, para alcançarem escolhas pastorais correspondentes à realidade”.[9] 
Esperamos que o coração e a mente de líderes religiosos sejam contagiados pelo espírito sinodal. Que os jovens tenham a audácia de provocar e de construir a verdadeira Civilização do Amor. 

Bibliografia consultada
Baldisseri, Lorenzo, Conferenza Stampa di presentazione della XV Assemblea Generale Ordinaria del Sinodo dei Vescovi I giovani, la fede e il discernimento vocazionale, in http://press.vatican.va/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2018/10/01/0711/01519.html(acesso 03.out.2018). 
FrancescoCatechesi in occasione dell’Udienza generale, 4 ottobre 2017, in https://w2.vatican.va/content/francesco/it/audiences/2017/documents/papa-francesco_20171004_udienza-generale.html. (acesso 02.nov.2018).
FrancescoAnnuncio della XV Assemblea Generale Ordinaria in 06 ottobre, 2016. In https://press.vatican.va/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2016/10/06/0712/01594.html. (acesso 02.nov.2018).
FranciscoDiscurso do Papa na abertura do Sínodo dos Jovens, in https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2018-10/integra-discurso-papa-abertura-sinodo-jovens.html. (acesso 02.nov.2018). 
Sinodo dei vescoviI Giovani, la Fede e il discernimento vocazionale. Documento finale, 27 ottobre 2018. 


[1]Baldisseri, Lorenzo, Conferenza Stampa di presentazione della XV Assemblea Generale Ordinaria del Sinodo dei Vescovi I giovani, la fede e il discernimento vocazionale, in http://press.vatican.va/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2018/10/01/0711/01519.html(acesso 03.out.2018). 
[2]FrancescoCatechesi in occasione dell’Udienza generale, 4 ottobre 2017, in https://w2.vatican.va/content/francesco/it/audiences/2017/documents/papa-francesco_20171004_udienza-generale.html. (acesso 02.nov.2018).
[3]FrancescoAnnuncio della XV Assemblea Generale Ordinariain 06 ottobre, 2016. In https://press.vatican.va/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2016/10/06/0712/01594.html.(acesso 02.nov.2018).

[4]Francisco, discurso do Papa na abertura do Sínodo dos Jovens,in https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2018-10/integra-discurso-papa-abertura-sinodo-jovens.html. (acesso 02.nov.2018).  

[5]Sinodo dei vescoviI Giovani, la Fede e il discernimento vocazionaleDocumento finale, 27 ottobre 2018, n. 91. 
[6]Ibid. n. 101.
[7]Ibid. n. 122. 
[8]Ibid. nn. 166 e 167. 
[9]Francesco,Discorso di apertura del Sinodo dei vescovi, in https://www.vaticannews.va/it/papa/news/2018-10/papa-angelus-28-ottobre-2018.html#play.(acesso 02.nov.2018).

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